Na fila do táxi, eu sou a pessoa que te dá carona
Encontrar a pessoa certa na hora em que você precisa vai mudar toda sua percepção de uma experiência. Muita gente sonha em mudar de país, mas a realidade traz muitas situações para as quais talvez não tivéssemos nos preparado.
Já passava da meia-noite quando eu cheguei em Grenoble, meu destino final na França. Por causa do trânsito em Paris, onde fiz a troca do avião vindo do Brasil para o trem indo para o sudeste francês, acabei me atrasando e partindo muito mais tarde do que o previsto. Gostaria que alguém tivesse me dito na época que era muito mais fácil chegar pelo aeroporto de Lyon e pegar um ônibus até Grenoble, mas ao invés disso saí carregando duas malas de vinte e poucos quilos de trem pela França.
No horário em que finalmente cheguei na cidade que seria minha casa não tinham muitas opções de transporte disponíveis, então logo se formou uma fila que aguardava pacientemente – ou nem tanto – o retorno de um dos poucos táxis que ainda estavam trabalhando. Eu estava exausta da longa viagem, um pouco ansiosa pela aventura em que eu estava prestes a encarar e muito empolgada com todas a novidades de me mudar para outro país.
Passada quase uma hora de espera, a fila ainda reduzia muito lentamente. Nesse momento, a mulher que aguardava na minha frente virou-se e fez um comentário em francês. Eu fui obrigada então a explicar, em inglês, que não era francesa e não falava, nem entendia o idioma. Fiquei ligeiramente apreensiva, pois não sabia qual reação esperar.
Então, começaram as surpresas positivas nessa jornada no exterior. Começamos a conversar em inglês, contei que estava me mudando para Grenoble a trabalho e que tinha acabado de chegar de Paris. Ela também se apresentou e foi extremamente simpática e prestativa. Alguns minutos depois chegou um táxi que ela tinha chamado por outro aplicativo e ela propôs de me deixar no hotel onde eu ficaria que era caminho para onde ela estava indo. E assim, fui.
Antes de descer no meu destino final, ela me entregou um cartão profissional e me pediu para mandar uma mensagem para mantermos contato. Naquela primeira semana, saímos para jantar, conheci a família dela, ela me levou para conhecer a cidade e explicou muitas coisas práticas sobre a cidade e o país. O resultado é que mantemos uma amizade até hoje, mais de dez anos depois.
Eu tive muita sorte de encontrar uma pessoa tão acolhedora logo nos meus primeiros minutos naquela cidade desconhecida, mas sei que nem todo mundo passa pela mesma experiência. Quando conto essa história para outras pessoas que também vieram morar fora, todos concordam que essa experiência foi extremamente rara. Esse momento foi muito especial e influenciou positivamente como me senti e toda a minha percepção de um novo país.
Morar no exterior traz novidade, aprendizados, exposição a diferentes culturas, autoconhecimento e muito mais e isso é incrível ao mesmo tempo que é desafiador e pode acabar se tornando muito burocrático. Existem coisas simples que precisamos descobrir e que, muitas vezes, nem são questões que pensamos antes da mudança. O processo é transformador, pois além de nos confrontar a outras realidades, nos confronta à nós mesmos e a quem realmente somos quando estamos longe de tudo que é familiar.
Já estou há mais de dez anos morando na Europa, inserida em culturas que divergem muito da que foi a minha até os vinte e poucos anos, com uma identidade que já é um misto de todos os lugares que passei. Com essa experiência, estou também dedicada a ser a pessoa da fila do táxi para outros brasileiros que estejam em processo de mudança.